quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O papel da beleza no culto religioso - 2ª parte: A pobreza evangélica

        Continuamos a série de postagens sobre o papel da beleza no culto religioso, da obra de Dietrich Von Hildebrand. Nesta segunda parte falaremos sobre a beleza com relação à pobreza evangélica.
      "Infelizmente alguns católicos dizem, hoje, que o desejo de dotar de beleza o culto se opõe à pobreza evangélica. É um erro grave e que parece freqüentemente inspirado em sentimento de culpa por terem eles sido indiferentes às injustiças sociais e negligenciado os legítimos reclamos da pobreza. É então em nome da pobreza evangélica que nos dizem que as igrejas devem ser graves, simples, despojadas de todos os adornos necessários.
      Os católicos que fazem essa sugestão confundem a pobreza evangélica com o caráter prosaico e monótono do mundo moderno. Deixaram de ver que a substituição da beleza pelo conforto, e do luxo que muitas vezes o acompanha, é muito mais antitético à pobreza evangélica do que a beleza — mesmo esta em sua forma mais exuberante. A noção funcionalista do que é supérfluo é muito ambígua, simples seqüela do utilitarismo. Contradiz as palavras do Senhor: Nem só de pão vive o homem. No livro Nova Torre de Babel, procuramos mostrar que a cultura é um bem superabundante, algo que necessariamente parece supérfluo à mentalidade utilitarista. Graças a Deus, esta não foi a atitude da Igreja e dos fiéis através dos séculos. São Francisco, que em sua própria vida praticou a pobreza evangélica ao extremo, jamais afirmou que as igrejas devessem ser vazias, despojadas, sem beleza. Pelo contrário, igreja e altar nunca seriam suficientemente belos para ele. Diga-se o mesmo de Cura d’Ars, São João Batista Vianney.
      Acontece um ridículo paradoxo quando, em nome da pobreza evangélica, são demolidas e substituídas as igrejas mais preciosas artisticamente — e a que custo! — por igrejas prosaicas e monótonas. Não é a beleza e o esplendor da igreja, a casa de Deus, que são incompatíveis com o espírito de pobreza evangélica e que escandalizam o pobre; são muito mais o luxo e o conforto desnecessários, hoje tão em voga. Se o clero deseja retornar à pobreza evangélica, deve reconhecer que em regiões como nos Estados Unidos e na Alemanha o clero possui os carros mais elegantes, as melhores máquinas fotográficas, os aparelhos mais modernos de TV. Beber e fumar muito é, certamente, oposto à pobreza evangélica; mas não, decerto, a beleza e o esplendor das igrejas.
      De um lado, afirmar-se que as igrejas deveriam ser despojadas, porém, ao mesmo tempo, paróquias e campus de escolas católicas estão levantando feios edifícios para assuntos sociais, dotados de todo tipo de luxo desnecessário. Isto é feito em nome de problemas sociais e do espírito de comunidade. Até mesmo nos conventos verifica-se desenvolvimento análogo. Essas novas estruturas não são apenas opostas à pobreza evangélica; criam, também, uma atmosfera tipicamente mundana. Cadeiras reclináveis e tapetes espessos com maciez não muito saudável. Esses edifícios reúnem, artificialmente, três propriedades negativas: dispendiosos (o que diretamente se opõe à pobreza evangélica), feios e convidativos a concessões pessoais, típicas da degeneração que, hoje, ameaça os homens".

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