quarta-feira, 11 de julho de 2012

Minha experiência com D. Eugenio Sales


A foto acima, que foi tirada no enterro do Cardeal D. Eugênio Sales, mostra a pomba que permaneceu por longos momentos em cima do seu caixão. Talvez isso simbolize a vida deste grande homem de Deus. Diz um ditado popular que “se morre da mesma forma que se vive”. Com certeza esse ditado tem seus limites próprios, mas, no caso de Dom Eugênio, talvez esta pomba simbolize a presença do Espírito Santo, a mesmo que desceu sobre Jesus no momento do seu batismo. Realmente, D. Eugênio era um homem conduzido pelo Espírito Santo. Este fato que aconteceu no seu enterro parece ser uma confirmação de Deus, por toda sua docilidade à ação do Espírito Santo durante a sua existência.
Sua trajetória é marcada por grandes feitos como Arcebispo de Natal, Salvador e Rio de Janeiro, tornando-se, nas décadas de 70 até o início deste século, a figura mais influente da Igreja do Brasil. Podemos dizer, um dos Cardeais mais influentes de todo o mundo e com grande influência na história do Brasil, principalmente no tempo da ditadura militar.
Gostaria de uma forma especial de partilhar minha experiência pessoal com este grande homem de Deus. Ela começa no ano de 1996, quando fui morar no Rio de Janeiro como responsável pela Comunidade Shalom naquela cidade. Permanece muito viva na minha memória a primeira vez que fui à Cúria Arquidiocesana do Rio de Janeiro. Fiquei impressionado com a estrutura e a grande organização que existia em tudo que funcionava lá. Fiquei sabendo que quem tinha projetado e realizada tudo aquilo tinha sido D. Eugênio.
A partir daí comecei a perceber como ele era um grande administrador do Reino de Deus. Essa percepção ficou mais forte quando eu estava na antessala  do Cardeal, esperando para ser atendido por ele. Trabalhavam lá cinco secretários, que administravam sua agenda, suas correspondências, seus compromissos pastorais e suas funções em Roma.
Ao entrar para a audiência, percebi mais uma característica forte: como ele, de forma educada e amável, não perdia tempo – as audiências normais duravam exatamente quinze minutos; quando eram com grandes autoridades, exatamente trinta minutos. Durante a audiência, ele manteve um diálogo amável e cordial sobre de onde nós vínhamos e se interessou de forma particular quando disse que eu era seu conterrâneo (Rio Grande do Norte). Em seguida, passamos a resolver todas as coisas práticas. Dentro mesmo da audiência, chamou um de seus secretários e encaminhou todos os nossos pedidos.
Quando saímos da audiência, estávamos até um pouco desorientados, porque nunca tínhamos visto tantas coisas serem discutidas, resolvidas e encaminhadas em tão pouco tempo. Depois de um tempo, ainda tive uma segunda audiência com ele, que aconteceu da mesma forma, onde tudo era realmente resolvido e encaminhado.
Morei dois anos no Rio de Janeiro e minha admiração por ele foi só aumentando, especialmente por duas coisas: seu zelo na Liturgia e sua profunda obediência e comunhão com o Santo Padre, o Papa. Lembro-me de um dia que estava participando de uma celebração na Catedral. Era um encontro da juventude e eu estava conversando na porta da Catedral com D. Rafael, então bispo auxiliar do Rio de Janeiro. Nesse momento, chegou uma equipe da Rede Globo para fazer uma entrevista com D. Eugênio. D. Rafael me pediu para levar a equipe para a sacristia, e fosse avisar D. Eugênio, que estava rezando na capela, que eles estavam esperando para entrevistá-lo. Confesso que fiquei muito constrangido quando cheguei na capela do Santíssimo e ele estava ajoelhado no genuflexório, em frente ao Sacrário. Cheguei bem perto dele e ele não percebeu minha presença. Estava completamente concentrado, rezando. Quando eu o chamei e toquei no seu ombro, ele tomou um grande susto e eu também.
Este fato demonstra muito bem o quando ele vivenciava os momentos de oração, especialmente a liturgia. Em uma das audiências, ele também falou de forma bem clara sobre sua ligação com o Papa, ele disse: “na minha Arquidiocese tudo o que o Papa quer e gosta, eu me empenho para fazer”, demonstrando que sua obediência ao Papa não era só uma questão formal, mas nascia do mais profundo do seu coração.
Nestes dois anos, aprendi a amar e a respeitar este grande homem de Deus, por sua vida, por seus atos, suas palavras e atitudes. Por isso, posso dizer que creio firmemente que a imagem da foto acima é um símbolo da vida deste grande homem. Com certeza, ele, agora no céu, intercede por cada um de nós.

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