Os três anjos, perfeitamente iguais e todavia diferenciados, representam um só Deus em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
É próprio da Santíssima Trindade nem tanto diversificar, quanto ser una e indivisível, na sua essência e nas suas manifestações, embora na diversidade das Pessoas.
Conhecemos o Pai através do Filho: "Quem me vê, vê o Pai" (Jo 14,19).
Conhecemos o Filho através do Espírito: "Ninguém pode dizer Jesus Cristo é o Senhor, senão por meio do Espírito Santo"(1Cor 12,3).
Os cetros idênticos indicam a igualdade do poder do qual cada anjo é dotado. A diversidade é expressa através das cores das roupas, mas sobretudo pela atitude pessoal de cada um em relação aos outros.
No anjo da esquerda se reconhece a figura do Pai, no anjo central a do Filho e no anjo da direita a figura do Espírito Santo.
O PAI
O anjo da esquerda, o Pai, veste um manto lilás sobre uma túnica azul, símbolo da Sua divindade. O lilás é uma cor evanescente, quase transparente, sinal do mistério e da transcendência.
O seu manto cobre os seus dois ombros, ao contrário do Filho e do Espírito, porque Ele não é enviado, mas envia os outros. Este seu envio é indicado também pelo pé esquerdo, que parece estar iniciando um passo de dança, ao qual o Espírito, enviado no mundo depois do Filho, responde.
Tudo converge para ele, como para a fonte: os outros dois anjos, a rocha, a casa e a árvore. Está estático, reto, porque esta pessoa é origem de si mesma: é o sinal da majestade e a referência para os outros dois.
O gesto da mão e o olhar parecem confiar uma missão ao Filho que a acolhe, curvado, em sinal de consentimento. As Suas mãos não tocam a terra-altar, mas a abençoam com os dois dedos da mão direita levantados; Ele não está no mundo. A cabeça inclinada indica que Ele acolhe a oferta amorosa do Filho.
O FILHO
O anjo central, o Filho, traja a túnica ocre: a cor da terra, símbolo da sua natureza humana assumida na encarnação; o manto azul é sinal da natureza divina da qual se “vestiu” depois da sua vida na terra e cobre só um ombro, porque Ele é enviado pelo Pai. A estola amarela indica a missão vitoriosa do Cristo “sacerdote”, que se deu a si mesmo para a salvação do mundo e ressuscitou.
O seu corpo curvado e o olhar de Amor voltado para o Pai indicam a aceitação e a docilidade à vontade paterna. Está comunicando com o Pai a respeito da missão que cumpriu.
A sua mão direita, apoiada à terra-altar, é a mais próxima do cálice da oferta, porque ele é a oferta simbolizada pela cabeça do cordeiro. A mão reproduz o gesto de abençoar do Pai e o ato de apoiá-la à terra-altar indica a sua descida ao mundo através da encarnação; os dois dedos são o símbolo das suas duas naturezas: Ele é plenamente Deus e plenamente homem.
O ESPÍRITO SANTO
O anjo da direita, o Espírito Santo, traz sobre a túnica azul, símbolo da sua divindade, um manto verde-água: é a cor da vida, do crescimento e da fertilidade. No campo espiritual o verde é o símbolo da força vivificante do Espírito, que ressuscitou Cristo e comunicou ao mundo a plenitude do significado da Ressurreição.
É Ele quem dá a vida: o Espírito de Amor e da comunhão. Dos três, este é o anjo que tem a expressão mais reservada.
A sua figura é a mais curvada sobre a mesa, em atitude de escuta, de humildade e de docilidade. Revela-nos um aspecto novo do Amor, tipicamente feminino, que é também necessidade de ser acolhido, protegido, para ser fecundado.
A sua mão pendente sobre a terra-altar indica a direção da bênção: o mundo ao qual o Espírito dá vida e crescimento, fazendo germinar o cálice do sacrifício e o seu fruto.
O Espírito está participando profundamente do diálogo divino e está pronto para ser enviado ao mundo para continuar a obra do Filho.
O manto, apoiado sobre um dos seus ombros, e o pé, que está respondendo à dança iniciada pelo Pai, são símbolos do seu estar preparado para partir para cumprir a missão que lhe foi confiada: "Quando o Espírito vier, Ele vos guiará à verdade toda inteira... dirá tudo que já foi dito e lhes anunciará as coisas futuras" (Jo 16,13).
Todo o simbolismo iconográfico do ícone da Trindade nos mostra a tese eclesiológica fundamental: a Igreja é uma revelação do Pai no Filho e no Espírito Santo.
OS OUTROS ELEMENTOS
Atrás do Pai se vê a casa de Abraão, que se tornou templo, morada do pai e símbolo da Igreja, sua Filha, porque "corpo" de Cristo, segundo a teologia paulina.
O carvalho de Mambré se transforma na árvore da morte, da tentação de Adão, origem da queda da humanidade. Ela é também símbolo da vida: a cruz em que Cristo, o homem novo, pagou o resgate da humanidade.
A rocha-monte atrás do Espírito é, ao mesmo tempo, símbolo de proteção, de lugar "teofânico", isto é, lugar onde Deus se manifesta e símbolo da ascensão espiritual.
O vitelo ofertado por Sara numa bandeja se torna o cálice eucarístico.
O ouro, símbolo da luz divina: o fundo e as auréolas douradas são símbolo da luz divina, como o sol é fonte de toda luz e cor.
No ícone a luz não é natural mas espiritual: provém da graça recebida, por meio do Espírito, antes de tudo pelo iconógrafo, na contemplação do mistério que ele vai representar, depois por quem contempla o ícone com a mesma atitude de oração.
PERSPECTIVA INVERSA E ATITUDE NA FRENTE DO ÍCONE
Os ícones não são autônomos, mas são "escritos" em função da liturgia e concebidos para um espaço litúrgico: é uma mensagem de fé, um "lugar" de encontro com Deus, através daquilo que está representando.
Esse encontro acontece na oração, na medida em que o ícone, além de ser admirado, suscita em quem o está contemplando a experiência da qual nasceu.
Como em cada ícone oriental, os pontos de vista do artista e do admirador não coincidem. Nos ícones encontramos o sistema de perspectiva inversa que elimina a distância e a noção de profundidade, onde tudo desaparece no horizonte. O efeito, no ícone, é contrário: aproxima as pessoas em um primeiro plano contemplativo, facilitando a entrada de quem está olhando no coração da cena, na profundidade do mistério. Mostra que Deus está lá, que está em todo lugar.
A atitude justa frente a cada ícone é a oração e a contemplação, como diante de uma janela aberta para o transcendente.
Nunca se pode dizer que o ícone está acabado, o último toque toca a quem olha com atitude humilde de escuta da Palavra escrita.
O ícone é dialógico por natureza, porque nos convida a entrar em diálogo com o Mistério representado. Quem aceita o convite e entra nesse mistério, participa do banquete: o Pai, o Filho e o Espírito Santo querem viver com o homem o que vivenciam entre eles.
Gostaríamos de acolher o convite a sentar-nos a mesa com os Três, participar da conversa sagrada, captar e tornar nossa a troca de Amor e comunhão entre as três pessoas, aparentemente idênticas, mas distintas na própria missão.
Queremos assumir a mensagem deste ícone, que é a de Cristo de João 17,20-21: "Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim: a fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste."
O Espírito é o Amor entre o Pai e o Filho, portanto, queremos nos tornar dóceis à sua ação, para viver a mesma comunhão de Amor que o Pai quer e o Filho opera por meio do Espírito.
"A comunhão dos cristãos tem por modelo, fonte e meta a mesma comunhão do Filho com o Pai no dom do Espírito." (ChL 18).
Fonte: Comunidade Missionária Villaregia:
http://www.cmv.it/nuke/index.php
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