sábado, 23 de outubro de 2010

Igreja da China

     
      Nesta postagem colocamos uma recente entrevista com o cardeal Joseph Zen Ze-kiun, de Hong Kong, feita pela agência de notícia Zenit, onde ele fala da realidade da Igreja da China. Que através deste maior conhecimento da realidade, possamos rezar por esta igreja que sofre e não cairmos na tentação de fechar os nossos olhos para valores fundamentais – como a liberdade – quando vemos a prosperidade econômica.

ZENIT: Qual é o requisito para um verdadeiro desenvolvimento humano na China?

Cardeal Zen: Para que o desenvolvimento seja verdadeiro, deve ser integral e completo. E a Igreja Católica pode ajudar no aspecto espiritual. Infelizmente, há muitas pessoas que pensam no desenvolvimento só no sentido de um progresso econômico e tecnológico. Isso não é suficiente.
Eu creio que, no âmbito espiritual, são muitos, e não só os católicos, os que podem contribuir. Penso que por exemplo no confucionismo, que é um patrmônio muito precioso do povo chinês. Mas certamente somos nós, os católicos e os cristãos em geral, que temos Jesus Cristo como modelo real de perfeição humana.

ZENIT: O cristianismo tem muito êxito na China continental hoje?

Cardeal Zen: A situação é um pouco mais tranquila para as famílias católicas que querem batizar seus filhos. Antes estava proibido. Era necessário ter cumprido os 18 anos. Mas agora é possível batizar os filhos, é algo bom.

A respeito do êxito entre as pessoas, certamente há. Mas não saberia até que ponto. Não há informações detalhadas. Mas sobretudo é entre os estudantes universitários e os intelectuais. Eles entram em contato com a doutrina cristã através da cultura ocidental. E estão muito interessados. Sei que também há intercâmbios acadêmicos entre o Ocidente e a China, um aspecto muito prometedor.

ZENIT: O regime tenta controlar esses êxitos?

Cardeal Zen: É muito curioso que no âmbito acadêmico exista uma liberdade muito maior. Aos sacerdotes não está permitido pregar, enquanto que se permitem os intercâmbios acadêmicos.

ZENIT: Mas um dia o regime perderá o controle sobre esses intelectuais, não?

Cardeal Zen: Na verdade já perdeu.

ZENIT: Talvez seja esta a esperança para o futuro?

Cardeal Zen: Sim. Quando os estudantes chineses vêm a Hong Kong no âmbito de intercâmbios, por exemplo, convidam-me, e eu posso ir com eles sem nenhuma objeção, porque estamos realmente no âmbito acadêmico.

ZENIT: Recentemente o senhor alertou de novo contra o paternalismo da Associação Patriótica. Por quê?

Cardeal Zen: A Associação Patriótica, sobretudo no âmbito nacional, é muito forte. Os bispos não têm nem voz nem voto. Isso, obviamente, deve-se ao fato de que o governo usa a Associação Patriótica para controlar a Igreja.

Liu Bainian, vice-presidente da Associação, representa o governo e mantém a Igreja e os bispos sob seu controle. Depois de tantos anos, foram-lhe dadas grandes vantagens para se assegurar de que as ideias não mudem. No âmbito local, a situação é muito diferente, porque em alguns lugares os poderes do bispo superam os da Associação.

Mas é evidente que a situação não está encaminhada para o bem do país, porque todos sabem que a Igreja na realidade não é livre. O governo chinês não é respeitado e se vê que a liberdade não existe.

Infelizmente, a Associação tem muitos amigos no governo. É difícil que este seja capaz de eliminá-la. Por nossa parte, temos uma necessidade extrema de uma decisão, porque se a Associação for mantida, ninguém dentro nem fora da China acreditará que existe uma verdadeira liberdade religiosa.

ZENIT: Melhorou a situação a respeito da ordenação dos bispos e da cooperação entre China e Vaticano?

Cardeal Zen: Os progressos alcançados neste último período limitam-se ao fato de que não houve ordenações ilegítimas nos últimos meses. Mas é verdadeiramente um bem? Eu duvido, porque o que significa que um bispo seja aceito por ambas as partes, pelo governo chinês e pela Santa Sé?

Existem muitas possibilidades. Uma possibilidade – que é a que nós queríamos – é que o Santo Padre escolha os bispos e que o governo chinês dê o seu consentimento. Isso seria o ideal. Mas é o caso? Não.

Vemos que frequentemente é o governo que elege o bispo. Talvez não seja o melhor, mas a Santa Sé diz: “nessa outra diocese, queremos este bispo, e se vocês aceitarem, nós aceitaremos o outro”. Portanto é uma troca. Às vezes se obtêm mais vantagens, outras vezes menos.

Já outras vezes se fazem concessões, algo muito perigoso. Certamente não é verdade que o governo chinês aceite de bom grado todos os candidatos da Santa Sé.

ZENIT: Quanto se terá de esperar até que a Santa Sé e Pequim estabeleçam relações diplomáticas?

Cardeal Zen: Na realidade todos os comentaristas consideram este fato pouco provável, já que no momento atual Pequim e Taiwan têm melhores relações. Portanto, em certo sentido, Pequim consente a Taipei manter relações diplomáticas com diversos países pequenos, entre eles a Santa Sé.

Se Pequim aceitasse estabelecer relações diplomáticas com o Vaticano, este se veria obrigado a abandonar Taiwan e, portanto, indiretamente, Pequim ofenderia Taiwan. Por isso, ninguém pressiona para acelerar a abertura das relações diplomáticas. Mas esta não é uma questão central. Inclusive na falta de relações diplomáticas, a melhoria e a normalização da situação já é algo bom.

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