Continuamos a série de postagens sobre o papel da beleza no culto religioso, da obra de Dietrich Von Hildebrand. Nesta quarta parte falaremos sobre a beleza com relação ao valor da beleza.
"Como se erra, portanto, ao considerar a beleza das igrejas e da Liturgia como coisas que nos podem distrair e afastar do tema real dos mistérios litúrgicos para algo superficial! Quem diz que igreja não é museu e que o homem realmente piedoso é indiferente a essas coisas acidentais, apenas revela sua cegueira à magnífica função desempenhada pela expressão adequada (e bela). Em última análise, trata-se de uma cegueira à própria natureza humana. Mesmo que essas pessoas se proclamem “existencialistas”, continuam muito abstratas. Esquecem que a beleza autêntica encerra mensagem específica de Deus, que nos eleva as almas. Como dizia Platão: “À vista da beleza, crescem asas às nossas almas”. Mais ainda: da beleza sagrada relacionada à Liturgia nunca se afirma que seja temática, como nas obras de arte; pelo contrário, como expressão, têm a função de servir. Longe de obnubilar ou de se substituir ao tema religioso da Liturgia, ajuda a torná-lo fulgurante.
Valor não é sinônimo de “ser indispensável”. O princípio básico da superabundância em toda a criação e em todas as culturas manifesta-se, exatamente, nos valores não indispensáveis a certa finalidade ou tema. A beleza da natureza não é indispensável à economia da natureza. Nem a beleza da arquitetura é indispensável para nossas vidas. Mas, o valor da beleza, na natureza e na arquitetura não é diminuído pelo fato de ser um dom, que de muito transcende a mera utilidade. Desse modo, a beleza é importante não só quando é ela mesma o tema (caso da obra de arte), mas também quando a serviço de outro tema. Destacar que a Liturgia deve ser bela não é colorir religião com tratamento estético. A aspiração pela beleza, na Liturgia, nasce do sentido do valor específico que se apóia na adequação da expressão.
A beleza e a sagrada atmosfera da Liturgia são algo não só precioso e valioso por si mesmo (na qualidade de expressões adequadas dos atos religiosos de adoração), mas são, também, de grande importância para o desenvolvimento espiritual das almas e dos fiéis. Repetimos: aqueles que, no movimento litúrgico, têm insistido na afirmação de que orações e hinos cansativos denominam o ethos religioso dos fiéis, apelando para o que no interior humano está longe do que é religioso, lançam-no em uma atmosfera que obscurece e embaça o semblante de Cristo. É de enorme importância a beleza sagrada para a formação do verdadeiro ethos do fiel. No livro Liturgia e Personalidade, falamos em detalhe da função profunda da Liturgia em nossa santificação, sem sacrifício de ser o culto de Deus seu tema central. Na Liturgia louvamos e agradecemos a Deus, associamo-nos ao sacrifício e à prece do Cristo. Convidando-nos a orar a Deus com o Cristo, a Liturgia exerce papel fundamental em nossa transformação em Cristo. Esse papel não se restringe ao aspecto sobrenatural da Liturgia. Integra, também, sua forma, a sagrada beleza que toma corpo nas palavras e na música da Santa Missa ou do Ofício Divino. Desprezar esse fato é sinal de grande primitivismo, mediocridade e falta de realismo".
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