No mês em que celebramos a Festa da Transfiguração, onde Cristo revela toda a beleza de sua identidade de filho de Deus, postaremos uma série sobre o papel da beleza no culto religioso, da obra de Dietrich Von Hildebrand. Desejo que este belo artigo nos ajude a mergulhar no mistério Deus .
I ) parte o “esteticismo”
A beleza desempenha importante papel no culto religioso. O ato mesmo de adoração à divindade encerra o desejo de envolver o culto com a beleza. Estigmatizar a preocupação com o belo no culto religioso como “esteticismo” — como fizeram recentemente, com crescente acrimônia, alguns católicos — é revelar uma concepção deformada do culto religioso e da natureza do belo.
É o que se vê claramente quando se considera a natureza do “esteticismo”, em vez de se usar o termo apenas com slogan destruidor.
O esteticismo é uma perversão na maneira de considerar a beleza. O esteta saboreia coisas belas como quem saboreia vinho. Não as trata com o respeito e a compreensão do valor intrínseco que requer uma resposta adequada, mas como fontes de satisfação meramente subjetiva. Mesmo dotado de refinado bom gosto, mesmo que seja um notável connaisseur, o tratamento do esteta não pode fazer de maneira alguma justiça à natureza do belo. Acima de tudo, é indiferente a todos os demais valores inerentes ao objeto. Qualquer que seja o tema de uma situação, vê-o somente do seu ponto de vista da satisfação e do prazer estético. Não consiste sua falha em superestimar o valor da beleza, mas em ignorar os outros valores fundamentais, sobretudo os morais.
Tratar uma situação de um ponto de vista que não corresponde ao seu tema objetivo é sempre uma grande perversão. Por exemplo, é perverso que um homem trate de um drama humano que exige compaixão, simpatia e ajuda, como se fosse mero objeto de estudo psicológico. Fazer da análise científica o único ponto de vista em qualquer assunto é radicalmente antiobjetivo e até mesmo repulsivo; é desrespeitar e anular o tema objetivo. Além de ignorar qualquer ponto de vista que não seja o “estético” e qualquer outro tema que não seja o da beleza, o esteta também deforma a natureza real da beleza em sua profundidade e grandeza. Como já mostramos em outros livros, toda idolatria de um bem necessariamente exclui a compreensão de seu verdadeiro valor. A maior e mais autêntica apreciação de um bem somente é possível se o vemos em seu lugar objetivo na hierarquia dos seres, disposta por Deus.
Se alguém se recusasse a ir à missa porque a igreja é feia e a música medíocre, seria culpado de esteticismo, pois estaria substituindo o ponto de vista estético ao ponto de vista religioso. Antítese do esteticismo é apreciar a elevada função da beleza na religião, é compreender o legítimo papel que lhe cabe desempenhar no culto e o desejo das pessoas religiosas em revestir de grande beleza tudo o que se refere ao culto divino. Esta apreciação justa da beleza é até um crescimento orgânico da reverência, do amor a Cristo, do ato mesmo de adoração.
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