sábado, 10 de março de 2012

3º Domingo da quaresma ano B - Jo 2,13-25


O nosso texto da purificação do Templo de Jerusalém segundo o evangelho de João, coloca-nos diante de uma diferença dos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). Nos sinóticos, a expulsão dos vendilhões do Templo é colocada no final da missão de Jesus, e no evangelho de João é colocada logo no inicio.
A diferença não fica só no aspecto cronológica do evangelho, mas também de significado. Nos sinóticos, o sentido do texto é mais na direção moral – e é a forma que estamos mais acostumados a interpretar – onde Jesus está purificando o Templo de tudo o que não é coerente com o culto autêntico, como por exemplo, o comércio.
No evangelho de João, o sentido é mais direcionado à dimensão teológica, mais especificamente na dimensão cristológica. Em outras palavras, é um ensinamento sobre a identidade de Jesus. Isso fica bem evidente com o comentário do texto que diz: “ele estava falando do templo do seu corpo”. Seus discípulos só poderão compreender o sentido mais profundo desde gesto de Jesus, após a sua ressurreição. Assim chegamos à conclusão central do nosso texto: Jesus ressuscitado é o novo templo.
O Templo de Jerusalém tinha dois significados fundamentais para o povo: primeiro, o Templo era o lugar da manifestação da presença de Deus no meio do seu povo; segundo, era lugar de comunhão de todas as tribos, porque era lá que todos se reuniam para oferecer sacrifícios a Deus.
O evangelho de João é marcado por ações simbólicas de Jesus nas grandes festas e nos lugares principais da vida religiosa do povo. Essas ações simbólicas revelam que a presença de Jesus suplanta as realidades antigas e, no caso do nosso texto, Jesus suplanta o Templo porque ele é agora aquele que traz a presença de Deus para o meio do seu povo, e é ao redor de Jesus e de sua Palavra que o novo povo de Deus, que é a Igreja, se reúne para estar em comunhão.
Provavelmente, o evangelho de João coloca a ação de Jesus no Templo no inicio de sua missão para, desde o inicio, deixar bem clara a posição e a ação de Jesus, já que o Templo era o lugar mais importante e sagrado do povo judeu.
O Templo foi construído pela primeira vez pelo rei Salomão e foi destruído por volta do ano 587 a.C., quando Jerusalém foi conquistada por Nabucodonosor. Ele foi reconstruído de forma simples com a volta dos exilados da babilônia por volta do ano 515 a.C., e foi reformado (praticamente reconstruído) por Erodes Magno em 20 a.C.. Esta obra era magnífica e é isto que, no nosso texto, os discípulos mostram a Jesus. Vejamos o comentário de um famoso historiador da época:
No aspecto externo do edifício nada foi descuidado, para impressionar o espírito e os olhos. Com efeito, como ele era recoberto de todos os lados por espessas placas de ouro, desde o nascer do sol refletia a luz do sol com tal intensidade que obrigava os que olhavam a retirar os olhos, como diante dos raios do sol. Para os estrangeiros que chegavam, ele aparecia de longe como uma montanha nevada, pois onde não era recoberto de ouro, o era do mármore mais branco. No alto, era eriçado de pontas de ouro agudas para impedir os pássaros de pousar e de sujar o teto.” (Flávio Josefo)
Neste sentido é que Jesus, no evangelho de João, diz: “eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14,16). Ao nos dirigirmos a Jesus, fazemos a mesma experiência dos Judeus, só que de uma forma mais perfeita e plena. Eles se aproximavam do Templo e adentravam nele para adorar e para se reconciliar com Deus. O Templo era assim, um espaço físico que marcava a presença de Deus no meio do seu povo e lá eles podiam estar em maior comunhão com Deus.
Jesus é assim, o novo Templo. Nele temos acesso, de uma forma mais perfeita e plena, à comunhão com Deus. Podemos adentrar na sua pessoa, pela fé. Por isso é que a verdadeira oração é por Cristo, com Cristo e em Cristo e o sentido profundo do batismo é que somos inseridos em Cristo. Por causa disso é que podemos adorar, nos reconciliar e ter comunhão com Deus no novo Templo que é Jesus.
Encerraremos a nossa reunião de hoje com a oração da Coleta (oração que é feita pelo presidente da celebração, antes da primeira leitura) da celebração Eucarística do terceiro domingo da Quaresma. em clima de oração, digamos: “Ó Deus, fonte de toda misericórdia e de toda bondade, vós nos indicastes o jejum, a esmola e a oração como remédio contra o pecado. Acolhei esta confissão da nossa fraqueza para que, humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos confortados pela vossa misericórdia. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”.

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