sábado, 14 de abril de 2012

Resposta a comentário sobre o aborto de anencéfalos


Esta postagem é uma responta ao comentário abaixo sobre sobre o aborto em fetos anencéfalos:

"Sou a favor mesmo, po vamos parar de hipocrisia, querer dar uma de santinho e bla bla bla, estou farto de vcs semi deuses, todos sabem q um feto anacéfalo não sobrevive muito tempo fora da barriga da mãe praticamente ele não terá vida nenhuma, só trará mais sofrimento a familia se durar alguns meses, sou a favor sim do aborto na gestação assim trará uma melhor oportunidade para o casal planejar melhor seus filhos."

A questão de uma mulher que carrega no seu útero um filho que sofre de anencefalia é uma realidade terrível, dolorosa e complexa. Situação esta que, com certeza, não pode ser resolvida por nenhuma solução simplista, entre elas o aborto. Porque a situação dolorosa que ela vive continuará, seja qual for a decisão que ela tome. Se ela decidir levar adiante sua gravidez, sofrerá bastante com esta situação; caso decida abortar, também sofrerá bastante por ter que tomar esta decisão e carregá-la pelo resto de sua vida.
Já tive a oportunidade de conversar com algumas mulheres que fizeram abortos voluntários por diversos motivos. O que vi em comum entre elas foi que, com os anos, aquela decisão não se apaga de sua memória, ao contrário, ganha mais força ao longo do tempo. E isto é um sofrimento dolorosíssimo. É um profundo trauma, que traz problemas conscientes e inconscientes, que irão influenciá-la pelo resto da vida.
Já que não sou um “semi-deus”, e sim um ser humano limitado perante o mistério do sofrimento humano, que ultrapassa minha compreensão, procuro viver esta realidade no silêncio, na oração, dialogando com o único que pode ter uma resposta para esta situação delicadíssima. E quando a providência de Deus me permite entrar em contato direto com uma pessoa que vive em alguma destas situações limites do sofrimento humano, ofereço minha companhia, minha oração e apoio. E se porventura esta pessoa pedir minha opinião, darei a partir da minha compreensão de fé.
Agora, referente ao fato em si, em meio a toda esta questão delicada, uma coisa não deve ser esquecida: é uma vida humana, profundamente limitada, mas continua sendo uma vida humana. E ainda mais: uma vida humana inocente. Mesmo que o sacrifício de uma vida humana inocente resolvesse os problemas de milhões de pessoas que morrem de fome na África, ou desse fim às guerras no mundo todo – com todos os dramas humanos envolvidos –  não poderíamos consentir nesta realidade, porque é o dom de uma vida e os fins não justificam os meios.
No Brasil existe uma pessoa que é conhecida pelo grande público por seu apelido: Fernandinho Beira-mar. Ele não foi uma pessoa que infligiu sofrimento a um casal ou a uma família apenas. Ele é acusado de tirar a vida de várias pessoas, entre elas vários pais e mães de família, deixando filhos órfãos. E também de muitos filhos que os pais até hoje choram. Sem contar na destruição de centenas – ou talvez milhares – de pessoas que usavam as drogas que ele traficava.  Quem conhece a vida de um dependente químico e a de seus familiares, sabe o que estou dizendo.
Por causa dele, o estado brasileiro já gastou milhões para o transporte dele em jatinhos e na escolta da polícia federal, que é maior do que a usada pela presidência da república. Tudo isso para que ele se apresente aos muitos julgamentos que está envolvido. Mas, a Constituição brasileira proíbe a pena de morte, e por isso, todos os brasileiros pagam com seus impostos para que ele tenha toda a estrutura para viver sua pena – numa prisão de segurança máxima de um custo altíssimo –, que no máximo pode atingir trinta anos. Depois deste período ele sairá com plenos direitos de qualquer cidadão brasileiro.
Com tudo isso, penso que o aborto – pena de morte – para uma criança anencéfala, mesmo com todos os sofrimentos que sua presença causa, sem ela ter culpa, é profundamente desproporcional a tudo que nós vemos nas leis brasileiras e na nossa justiça em relação aos assassinos, ladrões e políticos corruptos.
Aos responder seu comentário, a você que é meu irmão e amigo, me questionei profundamente. Creio que neste momento não estou sendo hipócrita, ao contrário, estou usando da mais profunda sinceridade do meu coração e expressando publicamente minha opinião naquilo que entendo e acredito. Não desejo, com esta resposta, começar um debate, porque isso não está a altura do sofrimento real de todas as pessoas envolvidas diretamente com esta situação dolorosíssima e complexa.
Sei que você é um homem de fé, e que seu comentário sincero é fruto de sua sensibilidade humana perante o sofrimento do outro. Mas me permita também dizer algo: desconfie sempre de respostas simples para problemas profundamente complexos. Por fim, peço a você e a todos que lerem este texto, que orem por todos os pais e familiares envolvidos neste doloroso sofrimento de ter um diagnóstico de gravidez de uma criança anencéfala.
Termino professando minha fé no Deus da vida e que a vida é um dom de Deus que devemos proteger desde sua concepção até seu final.

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