Sofreu
o martírio em Romana segunda metade do século III ou, mais provavelmente, no
início do século IV. O papa São Dâmaso adornou o seu sepulcro com versos, e
muitos Santos Padres, seguindo Santo Ambrósio, celebraram seus louvores.
Do
Tratado sobre as Virgens, de Santo Ambrósio, bispo (Séc.IV)
Ainda não
preparada para o sofrimento e já
madura para a vitória!
Celebramos
o natalício de uma virgem: imitemos sua integridade; é o natalício de uma mártir:
ofereçamos sacrifícios. É o aniversário de Santa Inês. Conta-se que sofreu o martírio
com a idade de doze anos. Quanto mais detestável foi a crueldade que não poupou
sequer tão tenra idade, tanto maior é a força da fé que até naquela idade encontrou
testemunho.
Haveria
naquele corpo tão pequeno lugar para uma ferida? Mas aquela que quase não
tinha
tamanho para receber o golpe da espada, teve força para vencer a espada. E isto
numa idade em que as meninas não suportam sequer ver o rosto zangado dos pais e
choram como se uma picada de alfinete fosse uma ferida!
Mas ela
permaneceu impávida entre as mãos ensanguentadas dos carrascos, imóvel perante
o arrastar estridente dos pesados grilhões. Oferece o corpo à espada do soldado
enfurecido, sem saber o que é a morte, mas pronta para ela. Levada à força até
os altares dos ídolos, estende as mãos para Cristo no meio do fogo, e nestas
chamas sacrílegas mostra o troféu do Senhor vitorioso. Finalmente, tendo que
introduzir o pescoço e ambas as mãos nas algemas de fero, nenhum elo era
suficientemente apertado para segurar membros tão pequeninos.
Novo
gênero de martírio? Ainda não preparada para o sofrimento e já madura para a vitória!
Mal sabia lutar e facilmente triunfa! Dá uma lição de firmeza apesar de tão pouca
idade! Uma recém-casada não se apresaria para o leito nupcial com aquela alegria
com que esta virgem correu para o lugar do suplício, levando a cabeça enfeitada
não de belas tranças, mas de Cristo, e coroada, não de flores, mas de virtudes.
Todos
choram, menos ela. Muitos se admiram de vê-la entregar tão generosamente a vida
que ainda não começara a gozar, como se já tivesse vivido plenamente. Todos ficam
espantados que já se levante como testemunha de Deus quem, por causa da idade, não
podia ainda dar testemunho de si. Afinal, aquela que não mereceria crédito se testemunhasse
a respeito de um homem, conseguiu que lhe dessem crédito ao testemunhar acerca
de Deus. Pois o que está acima da natureza, pode fazê-lo o Autor da natureza.
Quantas
ameaças não terá feito o carrasco para incutir-lhe terror! Quantas seduções
para persuadi-la! Quantas propostas para casar com algum deles! Mas sua resposta
foi esta: “É uma injúria ao Esposo esperar por outro que me agrade. Aquele que
primeiro me escolheu para si, esse é que me receberá. Por que demoras,
carrasco? Pereça este corpo que pode ser amado por quem não quero!” Ficou de
pé, rezou, inclinou a cabeça.
Terias
podido ver o carrasco perturbar-se, como se fosse ele o condenado, tremer a mão
que desfecharia o golpe, e empalidecerem os rostos temerosos do perigo alheio, enquanto
a menina não temia o próprio perigo. Tendes, pois, numa única vítima um duplo
martírio: o da castidade e o da fé. Inês permaneceu virgem e alcançou o
martírio.
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