Este insigne pai do monaquismo nasceu no Egito por volta do ano 250. Depois da morte dos pais, distribuiu seus bens aos pobres e retirou-se para o deserto, onde começou a levar vida de penitente. Teve numerosos discípulos e trabalhou em defesa da Igreja, estimulando os confessores da fé durante a perseguição de Diocleciano e apoiando Santo Atanásio na luta contra os arianos. Morreu em 356
Da Vida
de Santo Antão, escrita por Santo Atanásio, bispo
A vocação
de Santo Antão
Depois da
morte de seus pais, tendo ficado sozinho com uma única irmã ainda pequena,
Antão, que tinha uns dezoito ou vinte anos, tomou conta da casa e da irmã. Mal
haviam passado seis meses desde o falecimento dos pais, indo um dia à igreja, como de
costume, refletia consigo mesmo sobre o motivo que levara os apóstolos a abandonarem
tudo para seguir o Salvador; e por qual razão aqueles homens de que se fala nos
Atos dos Apóstolos vendiam suas propriedades e depositavam o preço aos pés dos apóstolos para ser distribuído entre os
pobres. Ia também pensando na grande e maravilhosa esperança que lhes estava
reservada nos céus. Meditando nestas coisas, entrou na igreja no exato momento
em que se lia o evangelho, e ouviu o que o Senhor disse ao jovem rico: Se tu
queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres.
Depois vem e segue-me, e terás um tesouro no céu (Mt 19,21).
Antão
considerou que a lembrança dos santos exemplos lhe tinha vindo de Deus, e que
aquelas palavras eram dirigidas pessoalmente para ele. Logo que voltou da
igreja, repartiu
com os habitantes da aldeia as propriedades que herdara da família (possuía trezentos
campos lavrados, férteis e muito aprazíveis) para que não fossem motivo de preocupação,
nem para si próprio nem para a irmã. Vendeu também todos os móveis e distribuiu
com os pobres a grande quantia que obtivera, reservando apenas uma pequena
parte por causa da irmã.
Entrando
outra vez na igreja, ouviu o Senhor dizer no evangelho: Não vos preocupeis com o dia
de amanhã (Mt 6,34). Não podendo mais resistir, até aquele pouco que restara,
deu-o aos pobres. Confiou a irmã a uma comunidade de virgens consagradas que
conhecia e considerava fiéis, para que fosse educada no Mosteiro. Quanto a ele,
a partir de então, entregou-se a uma vida de ascese e rigorosa mortificação,
nas imediações
de sua casa.
Trabalhava
com as próprias mãos, pois ouvira a palavra da Escritura: Quem não quer trabalhar,
também não deve comer (1Ts 3,10). Com uma parte do que ganhava comprava
o pão que comia; o resto dava aos pobres.
Rezava
continuamente, pois aprendera que é preciso rezar a sós sem cessar (1Ts 5,17).
Era tão atento à leitura que nada lhe escapava do que tinha lido na Escritura;
retinha tudo de tal forma que sua memória acabou por se substituir aos livros.
Todos os
habitantes da aldeia e os homens honrados que tratavam com ele, vendo um homem
assim, chamavam-no amigo de Deus; uns o amavam como a filho, outros como a
irmão.
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