Continuando nossa série de meditações sobre o Tríduo Pascal, nos centralizaremos na ação litúrgica da Paixão de Cristo – não é uma Celebração Eucarística porque não há consagração, e a comunhão é com as partículas consagradas na Celebração da noite anterior. A Celebração da Palavra começa logo após a procissão de entrada e tem como centro a solene proclamação da Paixão de Jesus Cristo segundo o evangelho de São João. Este evangelho é lido de uma forma especial: com vários leitores e com a participação de toda assembléia, nos fazendo participantes deste momento central da historia da salvação. Assim, somos introduzidos pela força da Palavra de Deus a vivenciar, juntos com Jesus, sua paixão e morte pelos nossos pecados.
Com a ajuda de Nicola Box, professor de Liturgia Oriental e consultor de diversos dicastérios da Santa Sé, mergulhemos em mais detalhes da celebração da Paixão de Cristo: “Na Sexta-Feira Santa in Passione Domini, o sacerdote é convidado a subir ao Calvário. Às três da tarde, às vezes um pouco mais tarde, acontece a celebração da Paixão do Senhor, em três momentos: a Palavra, a Cruz e a Comunhão. Dirige-se em procissão e em silêncio ao altar. Depois de ter reverenciado o altar, que representa Cristo na austera nudez do Calvário, ele se prostra em terra: é a proskýnesis, como no dia da ordenação. Assim, expressa a convicção do seu nada diante da Majestade divina, e o arrependimento por ter se atrevido a medir-se, por meio do pecado, com o Onipotente. Como o Filho que se anulou, o sacerdote reconhece seu nada e assim tem início sua mediação sacerdotal entre Deus e o povo, que culmina na oração universal solene.
Depois se faz a ostensão e a adoração da Santa Cruz: o sacerdote se dirige ao altar com os diáconos e lá, em pé, ele a recebe e a descobre em três momentos sucessivos – ou a mostra já descoberta – e convida os fiéis à adoração, em cada momento, com as palavras: Eis o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo. Em sua descarnada solenidade, aqui, no coração do ano litúrgico, a tradição resistiu tenazmente mais que em outros momentos do ano.
O sacerdote, após ter depositado a casula, se possível descalço, aproxima-se primeiramente da Cruz, ajoelha-se diante dela e a beija. A teologia católica não teme em dar aqui à palavra “adoração” seu verdadeiro significado. A verdadeira Cruz, banhada com o sangue do Redentor, torna-se, por assim dizer, uma só coisa com Cristo e recebe a adoração. Por isso, prostrando-nos diante do lenho sagrado, nós nos dirigimos ao Senhor: ‘Nós vos adoramos, ó Cristo, e vos bendizemos, porque pela vossa Santa Cruz redimistes o mundo’ ”.
Que mais esta meditação nos ajude a vivenciar o Tríduo Pascal com maior profundidade e piedade, e assim a nossa vida possa ser renovada e transfigurada em Cristo, nesta Páscoa.
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