Por volta do ano 1000, no período da arte românica, surge uma terceira forma de receptáculo, a píxide, uma espécie de caixa decorada. “Normalmente, consistia numa caixa redonda, algumas vezes quadrada, fechada por uma tampa na maioria das vezes cônica, mas também achatada. Justamente por essas características, era de uso muito prático e também de menor custo.”[6] As pombas e torres, contudo, continuaram a ser usadas. A pomba passou a ser mais bem trabalhada artisticamente possuindo muitas vezes um pedestal. Durante o período românico o uso da pomba e da píxide tornou-se bastante comum na França, ao passo que na Itália o mais comum até o século XVI era guardar a Eucaristia em um armário em uma das paredes do presbitério ou no secretarium, uma sacristia. Com o desaparecimento do cibório sobre o altar, apareceram também novas formas de suspender o receptáculo do Santíssimo. A forma mais comum era uma haste em forma de cruz no retábulo em cuja voluta se dependurava o receptáculo.[7] Lembremos que nessa época a palavra sacrarium designava tanto os receptáculos eucarísticos quanto os receptáculos para relíquias de santos e outros objetos sagrados.[8] Hoje usamos “sacrário” para designar especificamente o receptáculo da Sagrada Eucaristia e “relicário” para designar os receptáculos de relíquias de santos.
No período gótico, a partir do século XII aproximadamente, as pombas e píxides passam a ser suspensas acima do altar (por uma haste na parede ou retábulo, ou pelo teto) cobertas por um véu ou um dossel. Também no século XIII encontramos em alguns lugares o costume de por o receptáculo eucarístico sobre o altar.[9] Porém o uso que mais se disseminou na arte gótica foi o de manter o receptáculo em um armarinho ou edícula escavada em uma das paredes laterais do presbitério.[10] Estas eram por vezes chamadas de Sakramenthauz, “Casas do Sacramento
Dom Mauro Piacenza descreve minuciosamente a decoração dessas edículas:
“Tinha-se o cuidado, especialmente nas igrejas de certa importância, de enfeitar a porta do armarinho com adornos elegantes e pinturas, emoldurando tudo com um arco agudo sustentado por pequenos pilares revestidos de arcos e encimados por setas. Procurava-se sempre decorar com pinturas tanto o interior quanto a porta do armarinho. Uma abertura circular ou em forma de trevo de três ou quatro folhas, fechada por grades, aberta na parede na altura do interior do armário, permitia aos fiéis que, de fora, adorassem em qualquer tempo o Santíssimo Sacramento. Uma lâmpada acesa diante da abertura indicava, de longe, o lugar em que se conservava o pão transubstanciado. Com o advento do século XVI, já não nos contentamos com esse ornamento, que, mesmo significativo e de certo interesse artístico, é ainda assim um modesto armário. Começam a aparecer as primeiras edículas do Sacramento, que, num primeiro momento - perto do final do século XIV -, foram característica quase exclusiva das igrejas do norte da Europa.”[11]
Estas edículas em muitos lugares adquiriram aspectos de grandes torres que muitas vezes chegavam a tocar o teto da Igreja. Eram as chamadas “torres do Sacramento”. É também no período gótico que surgem os primeiros paralelismos entre o receptáculo eucarístico e o Tabernáculo judaico da Antiga Aliança. Pois a Arca, o Tabernáculo, na Antiga Aliança simbolizavam a Presença de Deus no meio de Seu Povo. Já o Tabernáculo eucarístico continha o Senhor substancialmente presente na Eucaristia.[12] Fica claro na arte gótica o desejo de realçar a majestade do Sacramento da Eucaristia frente às diversas heresias da época que negavam a Presença Real de Nosso Senhor no pão e no vinho consagrados. Também é um reflexo do crescimento das devoções ao Santíssimo Sacramento, suja expressão máxima é a instituição da Solenidade de Corpus Christi na Liturgia pelo Papa Urbano IV em 1264.[13]
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