

Dom Mauro Piacenza descreve minuciosamente a decoração dessas edículas:
“Tinha-se o cuidado, especialmente nas igrejas de certa importância, de enfeitar a porta do armarinho com adornos elegantes e pinturas, emoldurando tudo com um arco agudo sustentado por pequenos pilares revestidos de arcos e encimados por setas. Procurava-se sempre decorar com pinturas tanto o interior quanto a porta do armarinho. Uma abertura circular ou em forma de trevo de três ou quatro folhas, fechada por grades, aberta na parede na altura do interior do armário, permitia aos fiéis que, de fora, adorassem em qualquer tempo o Santíssimo Sacramento. Uma lâmpada acesa diante da abertura indicava, de longe, o lugar em que se conservava o pão transubstanciado. Com o advento do século XVI, já não nos contentamos com esse ornamento, que, mesmo significativo e de certo interesse artístico, é ainda assim um modesto armário. Começam a aparecer as primeiras edículas do Sacramento, que, num primeiro momento - perto do final do século XIV -, foram característica quase exclusiva das igrejas do norte da Europa.”[11]
Estas edículas em muitos lugares adquiriram aspectos de grandes torres que muitas vezes chegavam a tocar o teto da Igreja. Eram as chamadas “torres do Sacramento”. É também no período gótico que surgem os primeiros paralelismos entre o receptáculo eucarístico e o Tabernáculo judaico da Antiga Aliança. Pois a Arca, o Tabernáculo, na Antiga Aliança simbolizavam a Presença de Deus no meio de Seu Povo. Já o Tabernáculo eucarístico continha o Senhor substancialmente presente na Eucaristia.[12] Fica claro na arte gótica o desejo de realçar a majestade do Sacramento da Eucaristia frente às diversas heresias da época que negavam a Presença Real de Nosso Senhor no pão e no vinho consagrados. Também é um reflexo do crescimento das devoções ao Santíssimo Sacramento, suja expressão máxima é a instituição da Solenidade de Corpus Christi na Liturgia pelo Papa Urbano IV em 1264.[13]
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