Sabemos que os ritos judaicos do Antigo Testamento simbolizavam as realidades vindouras da Nova Aliança. Assim, Cristo é chamado de Cordeiro pascal. Para entender bem isso, é preciso voltar aos tempos do Antigo Testamento. Desde os tempos antigos que os homes dos diversos povos oferecem sacrifícios (cruentos ou não) às suas divindades, para obterem favores e para reconhecerem o senhorio das mesmas divindades. Um tipo de sacrifício bastante comum era o sacrifício de animais, dado muito desses povos serem essencialmente pastoris: o oferecimento de parte do rebanho significa o reconhecimento de que deviam aqueles bens que os sustentavam a Deus.
Entre os hebreus, o sacrifício de cordeiros, bodes, touros, etc, já era comum na época dos Patriarcas. Contudo, após o Exôdo, Deus por meio da revelação instituiu sacrifícios, ritos e um sacerdócio regulamentado e institucionalizado. A razão é que estes ritos simbolizariam melhor as realidades sobrenaturais. No sacrifício dos animais, o homem “passava” seus pecados para o animal a ser sacrificado, simbolizando que seus pecados deviam “morrer” junto com a vítima imolada no altar. Mas certamente o rito mais significativo era o do Cordeiro Pascal. O Cordeiro pascal era sacrificado e sua carne deveria ser consumida completamente. Nos ritos antigos, para que o fiel pudesse se unir, entrar em comunhão com a oferenda do altar, deveria comer da carne oferecida. É nesse sentido que São Paulo advertia sobre o fator pecaminoso de se comer carnes oferecidas aos ídolos, pois seria como comungar de uma oferenda a um falso deus. O Cordeiro pascal representava a libertação do povo de Israel da escravidão do Egito e relembrava a Aliança de Deus com o povo eleito.
A Missa é a Páscoa verdadeira e definitiva, não simbólica como a Páscoa hebraica. Pelo sacrifício pascal de Cristo fomos libertos da escravidão e corrupção do pecado. Tal como o animal do Antigo Testamento, Cristo "tomou sobre si nossos pecados" para que com sua morte na Cruz nos redimisse de nossas culpas. Hoje em dia muitas vezes lembra-se apenas do caráter de Ceia da Missa. Fala-se muito da Última Ceia de Jesus com seus Apóstolos. De fato, ceando com seus apóstolos o Senhor instituiu a Missa, o sacrifício da Nova e Eterna Aliança. Mas convém lembrarmos que não era uma ceia ordinária, uma refeição comum. Era uma ceia sagrada, um banquete sacrifical, todo regido por cerimônias especiais e atos sagrados e de culto. Se comemos da carne de Cristo, é para entrarmos em comunhão com a oferenda que foi sacrificada no altar. O aspecto mais importante da Missa é seu aspecto de sacrifício oferecido a Deus para seu louvor e ação de graças, pela nossa redenção e nossas necessidades (a comunhão eucarística é a forma com a qual nos unimos mais intensamente a esse sacrifício oferecido). O Cardeal Tomás de Vio Cayetano, OP, em seu tratado De Missa Sacrificio et Ritu adversus Lutheranos recorda que a natureza sacrifical da Eucaristia estão contidas nas próprias palavras do Salvador “meu corpo que é entregue por vós” e “meu sangue que será derramado por vós e por muitos”: Jesus não menciona apenas Seu Corpo e Seu Sangue, mas para que fim eles estão destinados, id est, o Sacrifício da nossa redenção.
O ofício do sacerdote consiste em oferecer sacrifícios. Se a Epístola aos Hebreus nos diz que Cristo continua exercendo seu sacerdócio, é claro que Ele o exerce especialmente por meio da Santa Missa, o memorial que perpetua seu sacrifício pascal, fazendo-nos participantes de seus frutos. Que possamos ao reconhecer a beleza do que simbolizavam os ritos do Antigo Testamento, contemplar a Beleza imensurável dos ritos e do Sacrifício que realiza as antigas promessas e os antigos símbolos com perfeição. Lembremos sempre de que a Missa é um sacrifício perfeito em que rendemos a Deus a adoração, a ação de graças e pela qual recebemos a redenção e as graças que necessitamos. Assim, lembremos de fazer do Sacrifício de Cristo oferecido pelas mãos dos sacerdotes da Igreja também o nosso sacrifício, unindo nossas necessidades, orações, louvores, agradecimentos, intenções e obras (enfim, toda nossa vida e todo nosso ser) a oferenda de Cristo para que nossa oferenda imperfeita seja santificada pelos méritos do Cristo, Cordeiro de Deus oferecido ao Pai na unidade do Espírito Santo.
Fonte blog Salvem a liturgia
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